terça-feira, 6 de abril de 2010

Sexta Parte.

Oito horas e trinta minutos. Transeuntes apressados por todos os lados. Ruído sem cessar. A multidão acordada e em êxtase. Se havia coisa de que, sem dúvida, gostava era de caminhar por entre aquele diário aglomerar de pessoas e sentir que era envolvida por uma imensidão de pensamentos, sentires e agires diferentes. Gostava de postar-se a adivinhar o que diriam para si ao caminhar. Falariam sequer consigo mesmos? Seriam capazes de se confrontar a si mesmos e ter, ainda assim, força para se moverem em direcção aos seus distintos destinos? Talvez caminhassem sempre em silêncio. Mas não era, também essa, uma ideia tão absolutamente aterradora? Seria possível que existissem mergulhados nos seus próprios silêncios? E agora que pensa…e ela? Como é que costumava caminhar? Em silêncio? Em conversa consigo mesma? Costuma cantarolar para dentro ou mesmo, em dias em que - por qualquer lapso da mão escritora desse dia - deixava em casa o terror de ser ouvida pela multidão, de forma audível. Não tresloucada e esquecida daquilo que ditam as regras acerca da sanidade mental, mas de forma audível. Será que cantarolavam para si os transeuntes daquela manhã de Lisboa viva? Imaginou que, durante breves minutos concedidos por qualquer divindade bem-disposta, toda aquela multidão cantarolaria e ela seria capaz de ouvir. Iron Maiden, o jovem rockeiro que se aproximava; Rodrigo Leão, a rapariga de estilo alternativo que atravessava agora a estrada para o outro lado; Pink Floyd, o senhor das tatuagens com ar de quem crescera a ouvir “We don’t need no education, We don’t need no thought control”; Xutos e Pontapés, a rapariga da Faculdade de Artes que se sabia sê-lo por estar devidamente trajada; Tony Carreira, a Dona Elvira que, com tanta gente que passa, talvez esteja aí algures também. Se não estiver, pelo menos já faz parte da Estória.