domingo, 16 de maio de 2010

Sétima Parte.


Sorriu com as cócegas que a possibilidade de tal acontecimento lhe faziam na imaginação. O rapaz dos calções azuis e pião na mão – quem sabe se não o menino referido no início da narrativa – julgou que lhe sorria a ele e retribui. Doce menino. Calhava a ter-se cruzado com a menina do balão e esta não lhe teria, com certeza, retribuído o sorriso. Para onde seria que se dirigiam? Escola? Emprego? Simples local de passeio? E, mais que na cabeça, que levariam na alma? Iria também ela vazia? Que sentiria o senhor vendedor de quadros que há anos só estrangeiros, de tempos a tempos, compravam? E a senhora que se arrastava pela calçada a pedir esmola com o filho leproso pelo braço, que mão não tinha, e de quem todos – incluindo ela, que nesse ponto de ninguém diferia - se afastavam? Que sentiria o rapaz perplexo que, pela conversa ao telefone, acabara de ficar pendurado? E a menina que, sentada no carrinho vermelho, mais de um ano não tinha, talvez menos, fitava a mãe sem compreender porque é que esta não respondia da forma que desejava ao seu choro? E ela? Que sentia ela própria? Saberia? Não lhe apetecia saber. Era mais fácil tentar adivinhar os sentimentos alheios. Mais confortável, também. Tão cedo e já tanta sensação!



(Apesar de parecer uma estória parada, está a andar. Uns dias com mais inspiração, outros com menos, mas vai indo. Obrigada a quem sei que tem seguido. Obrigada aos que eventualmente também seguirão sem que o saiba.)


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