sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Segunda Parte.

Voltou para dentro, deixando aberta aquela única fonte de ar puro, ainda que estático. Deteve-se em frente ao grande espelho na parede em que encostava a cama. Acordara como o dia que nascia lá fora: reluzente, tranquila, sorridente. O rosto apresentando, claramente, indícios de uma noite bem dormida. Deteve-se depois em frente do pequeno roupeiro que dividia com Alexandra há já quase cinco anos e onde guardava toda a sua indumentária. Lembrava-se de tê-lo recheado de novo – não deixara nem uma peça de roupa antiga – com os primeiros ordenados, no primeiro ano em trabalhara. Sentira-se como que dona de uma parte importante do mundo. De um só seu, claro está. Chegara depois a arrepender-se, amaldiçoando-se por não ter deixado de parte dinheiro suficiente que lhe permitisse tirar a carta. Recordou-se dos maus bocados que passara no primeiro ano de Faculdade, quando todos tiravam a carta e falavam dos carros novos e dos passeios que davam. Tão imatura era, ainda. Não sabia nessa altura que pouco importa cedo ou tarde, que pouco importam esses bens materiais, luxos a que nos habituamos para mais tarde termos de nos desabituar e um dia, talvez – e sublinhe-se talvez – voltarmos então, de novo, a habituar-nos. Luxos a que muitos têm a sorte de aceder por parte dos pais (e é quando saem debaixo das suas asas que a eles têm de se desabituar) e que outros nunca chegam - por parte nenhuma - a conhecer.


Continua...

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