terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Quarta Parte.

Costas coladas ao banco. Pânico a percorrer-lhe o corpo. Tal não fora a força com que colocara o pé naquilo que sabia agora ser o acelerador (embraiagem, travão, acelerador), que o baque havia sido ensurdecedor. Vinham já Mãe e Avó esbaforidas. A Avó tentando libertar-se da manta que ainda se lhe agarrava ao corpo, a Mãe mostrando
às mãos o caminho para a cabeça e abrindo mais os olhos à medida que se aproximava dos estragos produzidos. Costas ainda coladas ao banco. Suor frio. Suor quente. Olhos fixos na Oliveira. Mãos fixas no volante. Recordava-se vagamente da Mãe ter-lhe gritado inúmeras vezes que lhe abrisse a porta. Algures durante a viagem imaginária a nenhures, trancara o carro. A Avó batia insistentemente no vidro a seu lado, pedindo-lhe que lhe desse algum sinal de se encontrar bem. Depois daquilo que lhe parecera uma eternidade mas que poderiam ter sido apenas escassos minutos, destrancara a porta do carro. A Mãe gritava qualquer coisa como “Onde é que estavas com a cabeça?” e “Quem é que vai pagar os estragos?”, a Avó incitava-a a sair do carro para poder examiná-la da cabeça aos pés. Levaram-na de braçado para dentro de casa e a Avó preparara-lhe um chá. Passara os dias seguintes ao incidente em silêncio e, desde então, nunca mais voltara a falar à Mãe em tirar a carta. Mais tarde, quando o fizera finalmente, tinha-se safado à primeira sem qualquer tipo de problema.
Continua...

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